O simultâneo é a única ordem que consegues dar ao mundo. A ordem do mundo. Nunca a ordenação. Tens lá atrás deus a olhar pelos teus olhos, a fingir que os teus olhos são os dele. E tu, iludido, julgas que percebes: porque o cedro está perto da casa, a fechadura está perto da chave, a cadeira está perto da mesa, o verdilhão que pousou no parapeito está perto do vidro que o separa da morte, mas por essa coesão entram as fábricas que expulsam o fumo ininterrupto, os cartógrafos que reduzem as geometrias das cidades, o homem que se deita na erva de olhos esbugalhados, a progressão dos exércitos: o simultâneo é a ilusão de que os olhos de deus vêem pelos teus olhos.
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Eis a manha da eternidade.
Depois, só a manhã do que é sujo.
Rui Nunes, in "A Crisálida"
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