29/07/2018

Fingem, as palavras: uma casa é uma casa, um medronheiro é um medronheiro, uma montanha é uma montanha, uma rosa é uma rosa. Esta neutralidade apazigua: é um quarto de hotel: entra-se nele como se se acabasse de nascer. Tudo é estável. Não há sequer a ameaça de uma recordação nem a imprevisibilidade do futuro: estamos num presente sólido: a janela dá para o parque, os pombos voam pela primeira vez, as crianças chamam pela primeira vez, o homem de fato de treino corre pela primeira vez. Como num filme, tudo se põe em movimento à voz do realizador: acção.
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A escrita destrói a inocência do medo. Fica a suspeita, essa transversal que modela uma faca
Rui Nunes, in "A Margem de Um Livro"





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