Leva mais uma vez à testa o lenço ensopado, alarga a camisa aberta. O suor desliza continuamente. Chovesse duma vez, viesse o fim do mundo, mas deixassem um homem respirar em paz! Aproxima a cadeira da janela e abre os portais de par em par. É sempre o mesmo vento espêsso, viscoso, as mesmas terras nuas, os mesmos pinhais pasmados. Apenas o sol se escondeu atrás da avalanche negra que caminha do poente, nuvens sôbre nuvens, emaranhadas e grossas. Do lado das serras, o céu coberto avança de leste. Não tarda que tôdas aquelas avantesmas se atirem umas contra as outras. Serão raios na planície, chuva nas gândaras gretadas, casas e pinheiros rachados de alto a baixo.
Carlos de Oliveira, in "Alcateia", 1944
Carlos de Oliveira, in "Alcateia", 1944
Capa desenhada por Victor Palla |
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