28/11/2020


     De um modo geral, pode-se dizer que a história contemporânea está cada vez mais dominada pelo aumento de reivindicações de singularidade subjectiva - querelas linguísticas, reivindicações autonomistas, questões nacionalísticas, nacionais que, numa ambiguidade total, exprimem por um lado uma reivindicação de tipo libertação nacional, mas que, por outro lado, se encarnam no que eu denominaria reterritorializações conservadoras da subjectividade. Deve-se admitir que uma certa representação universalista da subjectividade, tal como pode ser encarnada pelo colonialismo capitalístico do Oeste e do Leste, faliu, sem que ainda se possa plenamente medir a amplitude das consequências de um tal fracasso. Actualmente vê-se que a escalada do integrismo nos países árabes e muçulmanos pode ter consequências incalculáveis não apenas sobre as relações internacionais, mas sobre a economia subjectiva de centenas de milhões de indivíduos. E toda a problemática do desamparo, mas também da escalada de reivindicações do Terceiro Mundo, dos países do Sul, que se acha assim marcada por um ponto de interrogação angustiante.
 
Félix Guattari, in "Caosmose. Um novo paradigma estético" (trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão) pág. 13, Editora 34, SP, 2006 [1992]

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