De
um modo geral, pode-se dizer que a história contemporânea está cada vez
mais dominada pelo aumento de reivindicações de singularidade
subjectiva - querelas linguísticas, reivindicações autonomistas,
questões nacionalísticas, nacionais que, numa ambiguidade total,
exprimem por um lado uma reivindicação de tipo libertação nacional, mas
que, por outro lado, se encarnam no que eu denominaria
reterritorializações conservadoras da subjectividade. Deve-se admitir
que uma certa representação universalista da subjectividade, tal como
pode ser encarnada pelo colonialismo capitalístico do Oeste e do Leste,
faliu, sem que ainda se possa plenamente medir a amplitude das
consequências de um tal fracasso. Actualmente vê-se que a escalada do
integrismo nos países árabes e muçulmanos pode ter consequências
incalculáveis não apenas sobre as relações internacionais, mas sobre a
economia subjectiva de centenas de milhões de indivíduos. E toda a
problemática do desamparo, mas também da escalada de reivindicações do
Terceiro Mundo, dos países do Sul, que se acha assim marcada por um
ponto de interrogação angustiante.
Félix Guattari, in "Caosmose. Um novo paradigma estético" (trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão) pág. 13, Editora 34, SP, 2006 [1992]
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