- Não há dúvida nenhuma de que, quanto às campanhas e aos perigos, partilhava deles com todos os camaradas... Oh, meu Deus, que belas horas vivia a nossa Ucrânia!
- Era terrível! — suspirou Ana Mikhaïlovna.
- Era esplêndido! — ripostou o jovem visionário.
- Agora nada resta! — declarou Piotr num tom decisivo, aproximando-se do lado da carruagem. Alteando as sobrancelhas e aplicando o ouvido ao passo dos cavalos vizinhos, obrigou o seu a regular-se pela caleche. —Tudo agora desapareceu — repetiu ele.
- O que foi condenado a desaparecer desapareceu — declarou o tio Maksim, num tom estranhamente frio. — Eles viviam à sua maneira, vós viveis à vossa, eis tudo.
- O senhor não se arrisca a nada agora — respondeu o estudante. Já tomou da vida tudo o que ela lhe podia dar. Nós é outra coisa.
- É bem verdade, a vida deu-me tudo e tudo me tirou — disse, sarcástico, o velho garibaldino, olhando as muletas. E depois de um curto silêncio acrescentou: - Há muito tempo também eu aspirava a tomar parte em batalhas, sonhava com a poesia furiosa das lutas e com a liberdade completa do espírito... Parti mesmo para a Turquia, onde Tchaikovsky, nosso compatriota, queria organizar um estado cossaco, completamente independente...
- E depois? — perguntaram vivamente os rapazes.
- Depois... curei-me, e bem depressa. Curei-me desde que vi os «livres cossacos» servir o despotismo turco. Uma mascarada histórica e uma escroquerie política foi tudo o que verifiquei.
Vladimir Korolenko, in "O Músico Cego", pág. 148-49, Publicações Europa-América, 1971
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