05/11/2014

"linguistmo" d'aprés Verlaine

não há qualquer argumento para este verbo.
chove. chove tão plena, tão impessoalmente
quanto este tempo é o indicativo do presente.
il ne pleut pas dans mon coeur comme il pleut
sur la ville. enxuto, assinei o orvalho e a noite.
mudei de nome para matar a sede enquanto
um velho professor sem casa, às portas do
dia se lembrava que era a hora de ser crente.
a angústia dobrou-me os lábios, o sábio lente
pensou que eu sorria. por respeito mantive
fechado o guarda-chuva. à chuva ninguém
sabe se choramos, se rimos. vi-lhe ideais
a brilhar por trás da barba sem alternâncias
causativas, vi um velho a rir como um menino
e achei que talvez não me ficasse mal voltar a
chorar. não sei se voltarei a abrir o guarda-chuva,
sei que a cada encontro é o que ele não diz que
me faz voltar àquilo que ainda não entreguei.
hoje choveu para caralho, tanto que aqueles
ossos molhados me incomodaram o tutano.
tenho um arrepio a assombrar-me os ombros,
tenho prazos a cumprir, horas a dever à cama.
escrevo apenas para dizer que os homens ainda
podem choram. que ainda não há imposto sobre
a dignidade.


amadeu liberto fraga
            


Old Man Walking, por Markos Ionos

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