02/10/2019

Algumas Horas Outras 

1 *

algumas horas outras invadiram as sedas, os perfumes
ácidos da louça, não serão recordadas. ou quanto mais
as recordarmos, mais a ignorância deitará
os corpos no tapume de vidros, para que em torno
se conciliem as vontades singulares, as
particularidades de um impetuoso alarme.
ou seja: deixarão as esplanadas baças, os garfos
encolhidos, para que um amplo destino os atravesse.
considerem, por exemplo, o paquete que ao meio-dia
digere as minuciosas palmeiras sobre a
alta insensatez dos aquedutos. ou ainda
a ilusão dos alicates ao lado da água, e o seu reflexo
do outro lado das vidraças: azul, não é?
assim estas algumas outras horas: como esquecê-las?

António Franco Alexandre, in "Sumário" (Livro de Artistas, com Ana Jotta), pág. 25, Europália, 1991 


* de uma sequência de poemas retirados de 'Objectos Principais' e incluídos nesta recolha


Sem comentários: